8.1.07

Kátia Mocoronga apresenta "Gambiarra"

Kátia Mocoronga apresenta "Gambiarra" (Sociedade de Arte Dramática, Rio de Janeiro/RJ)

Um delicado trabalho de clown da atriz Raquel Aguilera expõe a vaidade inerente no ser humano. Uma mulher, no seu dia-a-dia, acordando e sonhando com os sedutores produtos de uma sociedade consumista; contudo, não estamos falando de uma mulher qualquer, nem de um clown qualquer; Raquel parte do feio, do fora de moda, do cafona, cria sua palhaça com a cara do morador de rua, que vive entre quinquilharias... de forma grotesca, a mocoronga leva seu dia-a-dia, fazendo sua ginástica matinal ao som de um programa de rádio, onde também aprende suas receitas e dicas de beleza. Tentando copiar gestos finos, toma um chá com um galã de pôster de revista, com quem mantém um romance imaginário, aliás, um triângulo amoroso onde a rival, também musa de revista, ameça seu idílio. No cotidiano dessa figura, acontece de tudo o que se pode considerar kitsch, Raquel pesquisou e encontrou pérolas do mundo mocorongo e suas gambiarras: até a antena do rádio com uma panela de alumínio para ajudar a captar o sinal (o famoso drama da palha de aço na ponta da antena), figura nesse cenário. Noutros momentos, verdadeiros achados no lixo transformam-se nos sonhos da mocoronga, como uma fita de vídeo usada com a imponência de uma bolsa grife e um cd que se transforma em um singular colar.Então, aconteceu: enquanto o universo de Kátia Mocoronga se desenhava na tenda de espetáculos, os mocorongos das praças de Paraty iam encontrando, ao refugiar-se da chuva, uma igual, alguém que contava uma história familiar, próxima de seus mundos e no olhar desfocado que brilhava, via-se: eles se identificavam! Com a arte de Raquel Aguilera, surgiu na mostra de teatro de Paraty, um fenômeno que até agora permanece inexplicável, inatingível na sua dimensão: a rua invadiu o teatro de rua, os socialmente excluídos encontraram na arte, uma forma de igualdade e um lugar comum onde poderiam ser aceitos! Afinal, é na arte que comunga-se as ânsias do homem, e somos todos homens vítimas de nossos desejos! Desejo de ser amado... cedendo a ditadura da beleza, do consumo, às vezes, vivendo de gambiarras e, noutras, parecendo mocorongos...

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