28.12.06

Sonho de Uma Noite de Verão

Sonho de Uma Noite de Verão (Farsacena, Rio de Janeiro/RJ)




Noite de Abertura da Mostra Rio-São Paulo de Teatro de Rua de Paraty. Confesso minha expectativa com o espetáculo de estréia! Primeiro por ter ouvido os planos do grupo e presenciar o convite para estréia na abertura da Mostra (feito pelo curador Ailton Amaral em Curitiba - além de tudo, tive que guardar este segredo!), fato que me lançou para dentro do processo, trocando mensagens com parte do elenco e dividindo com eles um pouco de suas ansiedades. Segundo, e questão óbvia, amo o texto e qualquer montagem dele me causa expectativa, afinal, sempre se tem um ideal de como seria: as opções estéticas, os momentos imprescindíveis, o jeito de dar certas falas e as imagens a elas relacionadas... e assim, quando se vê concretizado o trabalho de outrém, fica o ego dizendo "eu faria diferente!" - e que atire a primeira pedra os que nunca pensaram assim! Junta-se a isso, minhas impressões sobre "Um Passeio com Tchékhov", espetáculo que assisti em Curitiba e que me agradou muito (e olha, isso é quase impossível, tratando-se do autor que é uma das minhas grandes paixões!); senti o FarsaCena afinado com a atmosfera tchekhoviana, em construções e interpretações impecáveis. Com este histórico, qualquer deslize acabaria com o sonho!
Fui levada a nocaute, e logo no primeiro round! Elencar os acertos do grupo com a montagem seria desmerecer pequenos detalhes impossíveis de relacionar com exatidão. Tentarei fazê-lo, mas confessando de antemão, o pecado da omissão. O convite para sonhar vem com música e uma chuva de papel colorido e é tanta delicadeza em cores, formas e sons que fica difícil não se entregar... Sem perceber, o espectador está de boca, olhos e coração abertos! Deste momento em diante, o texto de Shakespeare flui suave e dinâmico e a magia do mundo das fadas e dos elfos, faz brilhar em cada olhar um sonho! Os figurinos, onde predominam tons de rosa e vinho, são românticos e puros como os amores dos emanorados. Flores e tecidos suaves abrem passagem meio ao público para Titânia e Oberon que duelam em movimentos de artes marciais: beleza e força, contraste próprio aos deuses! Puck, com impressionante agilidade física, delicia-se em traquinices tendo o público como cúmplice! E assim, a trama se desenrola, contando os atores, com acessórios que lhes garantem assumir outros personagens e brincar de encantar. A direção, fadada ao desaparecimento em função de fazer o elenco se apresentar em uníssono, não transparece em marcas; em cena, apenas o sonho de um espetáculo afinado e pulsante, sonho vivido por todos aqueles que ousaram sonhar. E ali, embaixo da tenda, um outro sonho de Shakespeare se manifesta: somos da matéria de que o sonhos são feitos... E que este espetáculo circunde nossa breve existência!

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