3.7.06

sentidos...

platéia do teatro municipal (em dia de premiação do festival de teatro sacro)

um garoto (sentado ao lado de zandali): eu ouvi o apito do juiz e fiquei esperando (pausa), quando o narrador disse ?ricaaaaaaaaardo?, eu vibrei... portugal foi pra semi-final!

atenção leitor: releia a frase acima e preste bastante atenção aos verbos... OUVI... ESPERANDO...

perceberam algo diferente? foi esse diferente que me chamou a atenção... vou ajudar: o garoto em questão não VIU o jogo... ele ouviu o apito do juiz na cobrança de penalti decisiva e ficou esperando... e quando o narrador gritou o nome do goleiro da seleção de portugal, ele comemorou (da mesma maneira que eu, fã incondicional de felipão!!)

iniciamos uma conversa. meu amigo joão perguntou o que ele (o garoto) achou do desempenho da seleção brasileira: o brasil não foi e amanhã já está voltando! (gargalhadas)

começa a peça que abriria o evento. uma versão bem humorada de Romeu e Julieta por meus amigos zé braz e lilico... um momento de ação física (sem falas) e o garoto me pergunta: o que está acontecendo? passei a narrar as movimentações cênicas mais importantes... o garoto ria de tudo, inclusive daquelas falas que a gente acaba perdendo por descuido auditivo.

finda a peça... inicia-se a solenidade de entrega dos prêmios... então o garoto me pergunta: como é o troféu? descrevi-o, com dificuldade porque a distância e a pouca luz não me permitia enxergar com precisão. (depois, quando eu fui chamada ao palco para entregar um dos prêmios, a primeira coisa que fiz foi examinar minuciosamente o troféu pra contar ao meu amigo!)
mais uma atração, um balé... o garoto me pergunta como é a dança... passo a narrar a coreografia, identificar as bailarinas pelas cores das roupas e comento que a música está sendo executada ao vivo por um homem vestido de branco ao piano no fundo do palco...

mais uma brincadeira entre eu e o joão... o garoto diz a joão: ela (eu) tem um bom coração, dá pra perceber pelo tom da voz.

o garoto é chamado ao palco para recitar um de seus poemas (ele é poeta!). mãos geladas, acanhamento... quando voltou estava tremendo! disse-me que ficou nervoso... (ué, você pode se perguntar: mas ele não pode ver a platéia, ficar nervoso porque? pois é, ele não podia ver mas sabia que ela estava lá, olhando pra ele... olhando o garoto do escuro brilhar!). platéia sempre dá frio na barriga!

depois o garoto comentou sobre o meu cheiro... perguntou se eu estava usando hidratante da natura... e assim... findou-se a noite, uma noite que me revelou cheiros, um tom de voz, uma rapidez de raciocínio e sagaz observação de detalhes, que me despertou para minhas próprias capacidades, me aguçou a curiosidade.... que me desvelou uma superioridade dos sentidos... que me mostrou uma igualdade gritante em um ser que muitos consideram diferente, deficiente... um garoto que vive no escuro, mas que me inspirou muitas cores, muita luz!

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